Hoje, que já é Verão,deram-me as saudades do meu amiguinho.
Como ele gostava de correr na praia, de escavar buracos, de se molhar nas ondas!
Era meigo como uma pomba e forte como um touro e, claro, inconsciente da sua força.
Lembrei-me de tantas das nossas brincadeiras e por isso me vieram à ideia os versos do Alexandre O'Neill :
Cão
Cão passageiro, cão rasteiro cor de luva amarela,
apara-lápis, fraldiqueiro,
cão liquefeito, cão estafado,
cão de gravata pendente,
cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
cão ululante, cão coruscante,
cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão além e sempre cão.
Cão amarrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal de poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moído de pancada
e condoído do dono,
cão esfera de sono,
cão de pura invenção, cão pré-fabricado,
cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,
cão de olhos que afligem,
cão problema...
Sai depressa, ó cão, deste poema!
1 comment:
Lembro-me do Papuças, um amigo das férias de Verão, em Sesimbra, com quem, no fim do dia, brincava à beira da água, antes de ir ajudar os pescadoes a puxar a rede, cheinha de peixe.
Obrigado pelo poema, Lu, que me evoca esta memória :)
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